Translate

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Religiosidade da pós-modernidade: o já.

Ouvi um certo pregador afirmar que o crente não dever conformar-se com a demora da resposta de um pedido feito a Deus. O seu argumento, fundamentalmente neopentecostalizado, serpenteou desde o fato de Deus ser amor, passando por afirmações que evocam o poder da fé, até chegar no antropônimo estilístico do Já Divino. O Nome de Deus é Já! É Já no sentido da sua soberania, não como amuleto.

Na abertura do prefácio de "Modernidade Líquida", Bauman cita Paul Valéry: "interrupção, incoerência, surpresa são as condições comuns da vida. Elas se tornaram mesmo necessidades reais para muitas pessoas, cujas mentes deixaram de ser alimentadas...por outra coisa que não mudanças repentinas e estímulos constantemente renovados...Não podemos mais tolerar o que dura. Não sabemos mais fazer com que o tédio dê frutos".

Valéry, nesta curta, mas, consistente sentença, está afirmando que a interrupção, a surpresa e a interrupção, de fato, são, naturalmente, condições necessárias da vida. Todavia, elas se tornaram absurdamente necessárias para pessoas que as mentes deixaram de ser alimentadas por algo mais duradouro, concreto. São alimentos exclusivamente por fluídos. Há uma necessidade viciante e viciada de ingestão  por tudo que seja rápido, líquido, fluído; que seja já, inclusive, o sagrado, o divino: não se tolera mais o que dura. Em termos religiosos: não se tolera mais o que demora.

Na sentença de Valéry fica demasiadamente claro que o homem pós-moderno perdeu a capacidade de criar, na sua relação artesanal, alternativas individuais na forma simplificada de lidar com a vida: já não se sabe fazer o tédio dar frutos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário