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quinta-feira, 6 de junho de 2013

O Já da pós-modernidade: Uma religiosidade que nega arte do trabalho.

No post anterior observamos a incapacidade do homem pós-moderno em fazer o tédio frutificar. Fazer o tédio frutificar é o milagre da fé pela via do trabalho. Trabalho não só como meio de subsistência, mas, também, como arte. Em "Eu sou - Esboço de uma Ontologia Cristológica" (no prelo), faço uma exposição mostrando que é um equívoco, no mínimo por desatenção de leitura, atribuir ao pecado a surgimento do trabalho. O trabalho não surge pelo ato da não observância do interdito à Árvore da Conhecimento do Bem e do Mal (Gn.2:16,17), de forma alguma. O trabalho é inerente ao ser do Eterno; o trabalho é uma ontologia da arte do sujeito em si mesmo e para si mesmo. O Barah do Divino, está aquém-além do "suor do teu rosto". O "suor do teu rosto" não cria o trabalho, ele apenas vai atribuir sentido ao desrespeito à ordem primordial do "não comerás".

Na criação, inclusive aquela que é anterior ao Jardim das Delícias, Deus é o ser que se expressa pela arte do trabalho. O trabalho, portanto, não tem nenhuma ligação direta com a queda, ele é uma expressão artística que revela a capacidade do ser humano, não obstante a ser um ser para a morte, tornar possível o tédio ser frutífero. No entanto, com as novas configurações, novos arranjos e sobreposições mentais, nas quais o homem pós-moderno se hospeda, faz com este homem perca esta capacidade artística, fazendo do trabalho um lugar de sofrimento, sendo apenas possível suportá-lo pela contrato sustentado pelo aspecto pecuniário que ele oferece ao encaminhamento a alguma fonte de prazer, nomeadamente, pela via do consumo. São vidas líquidas, vidas para o consumo, no dizer de Bauman.

Invariavelmente, o homem do discurso religioso está vivendo neste contexto. Não há como fugir. E, assim sendo, para aqueles, entre os homens do discurso religioso, que se deixaram seduzir, havendo a cópula, tornaram-se consumidores compulsivos. É um tipo de bulimia pela consumo em nome do sagrado: consumem e vomitam sobre os próprios pés. Estes tornam-se os tipos de consumidores mais perigosos. Sobretudo, os consumidores ativos, aqueles que são detentores da palavra de ordem, pela via da amplificação da voz, na relação de poder. Estes, com raras e honrosas exceções, tornaram-se, sabendo ou não, mantenedores da religiosidade que nega a arte do trabalho. Com isto, têm prostituído a assentamento bíblico do sentido da fé, e, assim, passam a falarem em viver "pela" fé, em vez de viver "da" fé.

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